segunda-feira, 30 de maio de 2011

Microconto 5



Rodava com seu táxi pelas ruas da vida. Sempre em alta velocidade, tentava driblar o trânsito e encontrar atalhos para satisfazer a pressa dos passageiros.

Levava sempre uma arma embaixo do banco, “para se defender da bandidagem”, dizia. Mas talvez seu rosto carrancudo já fosse o suficiente.

Já não saía mais nas folgas, nem para beber o uísque da madrugada, nem a cerveja do domingo no boteco da vila. As damas do amor pago também já não lhe arrancavam mais sorrisos.

A bandeira dois de seu peito já não era acionada há muito tempo. Era divorciado.

E de tanto conhecer a cidade, os caminhos para qualquer lugar ou lugar nenhum, tantas pessoas, tantos destinos, um dia perdeu-se de vez.

O itinerário para chegar a si mesmo nem sempre é fácil de se lembrar. E não há asfalto, mapas ou placas para facilitar.

domingo, 29 de maio de 2011



vontade louca de cravar

meus desejos

na carne do seu pescoço

e das coxas

arranhar seu dorso

molhar seu ouvido

salivando palavras

esguichando escárnios

fazer odes ao seu rosto

cantar as melodias

do seu corpo.

mas você não está aqui

talvez em outro lugar

me pergunto

onde seu cheiro

foi parar?

meio ultra-romântico...



...e meio bobo, ingênuo, mas eu gosto dele. É de 2008. Ah, as paixões, sempre nos inspirando...

carvão

de choro embotado em lágrima
feito ferida estancada em sangue
ardem os olhos em brasa
impedindo que eu os arranque

veio súbita como a morte
a chama fez do corpo um abrigo
não quero que ninguém se importe
só a sombra queimará comigo

nada sai ileso da espada e dos braços
desse terrível anjo sereno que veio
restam apenas os pedaços
de um amor quebrado ao meio

o ego cimenta a angústia
desilusão é tijolo duro
massa corrida de lamúria
ergo dentro de mim um muro

o corpo é o carvão da alma
que o consome em gozo nas piras
de luxúria, da paixão e do nada
o coração se afoga nas c
inzas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

On the road, again


Aqui vou eu, mais uma vez

com os pés no asfalto quente

a estrada se insinuando

à minha frente

passo após passo

respirando a poeira que se fez

A cabeça erguida

os ombros ainda pesados

dos últimos fardos

a bagagem acumulada

de viagens passadas

a despedida, a chegada

ficaram nas estações,

nas curvas, nos acostamentos

da vida e mediações


Seguir à próxima parada

próxima montanha, desfiladeiro

rochedo

praias, ilhas

um remoto vilarejo

o próximo encontro

rumo ao desconhecido e além


Aqui vou eu, mais uma vez

caminhando, cantando

flertando, sonhando,

sozinho

ou acompanhado de alguém


Sem mapa

sem mala

sem placa

sem destino

sem origem

só a miragem

só a vertigem

só o vento como carona

o sol como bússola

a lua como guia

rumo ao desconhecido e além